Cientistas questionam posição de 'Ardi' na evolução humana





No ano passado, um esqueleto fossilizado chamado "Ardi" abalou o campo da evolução humana. Agora, alguns cientistas levantam dúvidas sobre o que essa criatura da Etiópia realmente era, e em que tipo de paisagem vivia.


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Reconstituição da possível aparência de Ardi

Novas críticas questionam se Ardi realmente pertence ao ramo humano da árvore evolutiva, e se ele realmente vivia em florestas. A segunda questão tem implicações para as teorias sobre o tipo de ambiente que desencadeou a evolução humana.

O novo trabalho aparece na revista Science, que em 2009 declarou a apresentação original do fóssil de 4,4 milhões de anos a principal descoberta do ano.

Ardi, abreviação de Ardipithecus ramidus, é um milhão de anos mais velho que o fóssil Lucy. Ano passado, foi saudado como uma janela para os primórdios da evolução humana.

Pesquisadores tinham concluído que Ardi andava ereto e não sobre os nós dos dedos das mãos, como os chimpanzés, e que vivia em florestas, não em campos gramados. Ela não se parece muito com os chimpanzés atuais, nossos parentes mais próximos ainda vivos, embora estivesse ainda mais perto que Lucy do ancestral comum entre humanos e chimpanzés.

Esses questionamentos são comuns; grandes descobertas científicas costumam ser saudadas dessa maneira. Até que mais cientistas possam estudar o fóssil, um amplo consenso sobre seu papel na evolução humana pode continuar indefinido.

A descoberta em 2003 dos pequenos "hobbits" na Indonésia, por exemplo, desencadeou um longo debate sobre eles seriam uma espéci à parte da humanidade ou não.


Tim White, um dos cientistas que descreveram Ardi no ano passado, disse que não se surpreende com o debate atual. "Era totalmente esperado", disse ele. "Sempre que se tem algo tão diferente quanto Ardi, provavelmente haverá isso".


Esteban Sarmiento, da Fundação de Evolução Humana, escreve na nova análise que não está convencido de que Ardi pertence ao ramo da árvore da vida que conduz à espécie humana.

Em vez disso, argumenta, ele pode ter vindo mais cedo, antes que o ramo humano se separasse dos ancestrais de gorilas e chimpanzés.

As características anatômicas específicas de dentes, o crânio e outras partes citadas pelos descobridores simplesmente não são indício suficiente de participação no ramo humano, diz ele. Algumas, como certas peculiaridades do pulso e da conexão da mandíbula indicam que Ardi surgiu antes que os humanos se separassem dos macacos africanos.


Em uma réplica por escrito na Science e em entrevista, White discorda de Sarmiento. "A evidência é muito clara de que no Ardipithecus há características encontradas apenas nos hominídeos posteriores e em humanos", disse ele. Se Ardi ainda fosse um ancestral dos chimpanzés, várias características teriam tido de" evoluir de volta" para uma forma mais simiesca, o que White considera "altamente improvável".


Outros especialistas, no entanto, disseram em entrevistas que acham que é muito cedo para dizer onde Ardi se encaixa.

Will Harcourt-Smith, do Museu Americano de História Natural e do Lehman College, disse que não poderia afirmar se Sarmiento está certo ou errado. "Estamos no início" da análise de Ardi, disse ele.

"Até que haja uma descrição mais completa do esqueleto, é preciso ser cauteloso ao interpretar a análise inicial de um jeito ou de outro". Mas ele disse discordar da avaliação de que Ardi seria velho demais para fazer parte do ramo humano. [Fonte: Estadão]

Estudo indica que humanos tiveram filhos com neandertais

Um estudo mostrou que todos os humanos, exceto os de ancestralidade puramente africana, tem em seu DNA uma contribuição de 1% a 4% de elementos genéticos de neandertais, indicando que as duas espécies cruzaram entre si e geraram descendentes comuns.

O estudo de quatro anos, liderado pelo instituto alemão Max Planck com colaboração de várias universidades de outros países e divulgado na publicação científica Science, desvendou o genoma, ou código genético, dos homens de Neandertal, espécie extinta há aproximadamente 29 mil anos.

As conclusões surpreenderam especialistas, já que evidências anteriores sugeriam que os neandertais não haviam contribuído para nossa herança genética.

O estudo também confirma que quase a totalidade dos humanos descende de um pequeno grupo de africanos que se espalhou pelo planeta, entre 50 e 60 mil anos atrás.

Cruzamentos

Traços da contribuição genética do neandertal foram encontrados em populações europeias, asiáticas e da Oceania.

"Eles não foram totalmente extintos, vivem um pouco em nós", disse o professor Svante Paabo do Max Planck em Leipzig.

O professor Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, disse que "o que realmente nos surpreendeu foram as evidências de que ocorreu algum tipo de cruzamento entre neandertais e humanos modernos".

Outros especialistas se disseram surpresos com a relativamente alta quantidade de material genético do neandertal (até 4%) em humanos modernos.

A pesquisa

O genoma sequenciado usou DNA dos restos de três neandertais descobertos em uma caverna na Croácia.

Um dos desafios do projeto foi extrair material genético aproveitável dos ossos, que possuíam dezenas de milhares de anos de idade.

As amostras continham pequenas quantidades de DNA de neandertais, misturados com DNA de bactérias e colônias de fungos que instalaram-se nelas ao longo dos anos.

O DNA de neandertais havia se quebrado em pequenos pedaços e modificado-se quimicamente, mas estas mudanças eram de natureza regular, o que permitiu aos pesquisadores corrigir as imperfeições por meio de programas de computador.

Teorias

A explicação mais plausível para a aproximação genética entre não africanos e neandertais é a de que houve um contato reprodutivo reduzido (ou fluxo de genes) entre as duas espécies.

Este cruzamento pode ter ocorrido quando os humanos deixavam o continente africano, talvez no norte da África ou na península arábica.

Segundo a teoria que diz que o mundo foi povoado a partir da África, o homo sapiens substituiu gradativamente as populações indígenas de outras regiões, como os neandertais.

Pesquisas anteriores indicavam a Europa como o local mais provável para as duas espécies terem se encontrado e possivelmente trocado genes.

Homo sapiens e neandertais conviveram no continente por mais de 10 mil anos. [Fonte: BBC Brasil]


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